"Thinking out of the Box"
Recebemos este excelente artigo do MB Pinheiro e do Cel. Odilon.
A história impressiona não apenas pelo fato em si mas, sobretudo, e como o Pinheiro(1) bem ressalta, pela solução criativa adotada por um piloto de caça para resolver o problema, onde todas as circunstâncias eram desfavoráveis: "Thinking out of the Box"(2) !
"Thinking out of the Box" significa, em resumo, abstrair do convencional e do óbvio, buscando soluções no que está além de tudo isso. Sem dúvida uma atitude essencial para o piloto de caça, mas igualmente relevante no desempenho de quaisquer outras atividades.
Vale a pena refletir sobre isso...
A ABRA-PC
Atirou no próprio tanque de combustível enquanto voava!
Esta é mais uma daquelas histórias verídicas de Guerra que nos fazem pensar em como o “jogo de cintura” pode salvar uma aeronave.
Era o primeiro voo solo depois do check de área na zona K-13, em Swan, Coréia do Norte, em Junho de 1952. O Tenente Coronel D’Amario decolou em um F-80 "Shooting Star", mas não era uma missão de combate. Tudo que ele tinha que fazer era subir e se divertir fazendo furos nas nuvens por uma hora e meia em um voo de teste de manutenção, para se certificar que tudo estava certo após intervenções dos mecânicos.
Logo após decolar, D’Amario começou a sentir que sua asa esquerda estava ficando pesada e chegou a conclusão que provavelmente o tanque de combustível da ponta da asa esquerda não estava alimentando o motor corretamente, ou talvez nem estivesse enviando combustível. Com o receio de que o tanque pudesse se romper ou soltar da asa durante o pouso devido ao peso, podendo derreter o asfalto com o incêndio que ia causar, a torre não permitiu que o piloto retornasse para o pouso com o tanque de ponta de asa cheio; então, deu instruções para que ele prosseguisse para uma área de treinamento de tiro e desconectasse o tanque da asa como se fosse uma bomba.
A torre me informou que uma vez que o tanque não havia sido liberado, eu deveria indicar minha posição, ejetar e esperar o resgate. Bem, pilotos realmente odeiam abandonar um avião perfeitamente voável, e eu pensei que ainda podia tentar uma última opção…bem, na minha cabeça valia a pena tentar.
O canopy (carlinga) de um F-80 pode ser aberto em voo com velocidade de até 220 nós (407 Km/h). Então eu abri o suficiente apenas para ter uma visão sem obstrução do tanque esquerdo, então peguei minha pistola Colt M1911. Sabendo que combustível líquido não explode como combustível vaporizado e que não entraria em combustão se o tanque fosse furado, eu abaixei o nariz do F-80 um pouco e mirei na parte dianteira do tanque, que eu tinha certeza que estaria cheio de combustível. Quando dei o primeiro tiro, a bala desapareceu não sei para onde, mas eu errei o tanque, e então me liguei que a física de alta velocidade estava trabalhando contra mim, ou então era apenas meu sistema nervoso. Tentei me acalmar um pouco e cuidadosamente mirei na parte de baixo do tanque, e meus próximos três tiros foram no alvo, atravessando o tanque e soltando uma esteira de combustível vaporizado pelos furos.
“Pelo que eu saiba, sou o único piloto da Força Aérea que atirou no próprio avião para corrigir um problema! “, diz D’Amario sorrindo.
(1) Senhores, Minha turma já começou o Curso de Caça em Natal, no SETA, voando o AT-26 Xavante.
Quem teve a oportunidade de voar o F-80 vai apreciar melhor este artigo sobre "thinking out of the box".
Álvaro Pinheiro
(2) 'Out of the Box" é uma expressão que descreve um modo de pensar criativo e não convencional. Deriva de um jogo "nine dots challenge", criado por Henry Ernest Dudeney, um autor e matemático inglês do início do século passado, aficcionado por enigmas e jogos matemáticos.
O jogo consiste em ligar nove pontos, dispostos na forma de uma matriz 3x3, com quatro linhas retas, que devem ser traçadas continuamente, sem retirar o lápis do papel.
Para chegar à solução, o jogador deve pensar que os limites da matriz são psicológicos.
A única forma de resolver esse quebra-cabeças exige que o jogador quebre a barreira psicológica dos limites da "matriz", estendendo as linhas além do limite virtual imposto pela figura dos nove pontos, ou seja, "think outside of the box".