Mais um “22 de Abril”, mais um Dia da AVIAÇÃO DE CAÇA

Por 9 anos, em Santa Cruz, de 1979 a 1987, dia em que eu acordava, como de hábito, bem cedo, e ia para o 1o Grupo de Caça. Algumas vezes ia voar, fazendo “alvorada festiva” na base, ou sobrevoar o Monumento do P-47 na solenidade de abertura das comemorações, ou decolar e interceptar a aeronave de alguma alta autoridade que chegava a base ou ir para a Praça Lima Mendes, junto ao P-47 e participar da solenidade .

Ali era hasteada a verdinha flâmula histórica do Grupo, a mesma usada em Tarquínia  e Pisa, durante a Campanha da Itália. Era acesa a chama histórica, como reza a tradição, pelo Tenente mais moderno em antiguidade, do Grupo. Em 1979 fui eu, ao lado do Brig. Nero Moura (JAMBOCK 01) e o Ten.-Cel. Sérgio Ribeiro, nosso então comandante.

Cantávamos ali o “Carnaval em Veneza” - o nosso Hino da Aviação de Caça - com muita vibração. Ali encontrávamos e reverenciávamos os nossos veteranos JAMBOCKs, sempre muito felizes por “voltarem a sua casa”. Emocionava!

Todos iam para o Pátio Oeste do Hangar do Zeppelin, onde era realizada a solenidade militar com desfile da tropa. Após era feito deslocamento com ônibus para o palanque, no "morrote" da pista Sul, para assistir à Demonstração Operacional. Decolávamos com  os dois esquadrões, JAMBOCK e PIF PAF, cada um com seus 8 F-5E/B. Junto também iam esquadrilhas de MIRAGE III e XAVANTE de outras unidades de Caça, presentes em SC para a Semana da Caça, quando tínhamos também o Torneio da Caça. Era uma “revoada” bonita !

A demonstração normalmente era com lançamento de bombas de emprego geral, no topo da pedreira, a Oeste do alagado próximo ao palanque. Nesse alagado eram montados alvos que atacávamos com foguetes, canhões e bombas incendiárias.

Esses alvos foram a minha “dor de cabeça” e banho de lama, por 5 anos, quando como Chefe da Seção de Sistema de Armas do 2o Esquadrão, tive a incumbência de prepará-los. Contei com a imprescindível e prestimosa ajuda do pessoal da Seção de Armamento do Grupo e Material Bélico da BASC, chefiados pelo Ten. Coelho e Cap. Tabalipa. Sempre prontos a tudo, de bom humor, quando conseguíamos até rir da lama, mosquitos e cobras. Em um desses anos, às 20:00h sai da lama, afastei os mosquitos e disse pra eles; Putz, e pensar que após esse trabalho todo, amanhã de manhã, serei um dos que estará tentando, a todo custo, destruir isso tudo que acabamos de fazer...

E “caprichávamos no mergulho”...” era do barulho”... mas nem sempre o alvo atingíamos... apesar de não ter FLAK... e as gozações sempre surgiam. Bom, teve ano em que houve alvo que “sobreviveu” e ficou para outra demonstração... e eu não reclamei .

Sempre fazíamos passagens baixas após o emprego do armamento, onde era bonito ver aquele "mix" de caças juntos, e ter tantos amigos e colegas a voar conosco.

Após, sempre havia um "big" coquetel no Cassino dos Oficiais, quando certamente “debriefings informais” eram feitos... quem acertou o que, quem errou o que... e as mãos “voavam”, naquela gesticulação tão típica de pilotos.

As despedidas eram então feitas. Até o próximo ano! Mas no íntimo sabíamos que alguns dos veteranos não voltariam... A vida cobra seu preço no passar dos anos... Como eles viveram na Itália, naqueles distantes anos 1944-45, as “baixas” haveria...

Agora os “veteranos” somos nós. Mas o “22 de Abril” sempre será um marco indelével para os caçadores, marcado no coração, na alma  no Espírito da Caça.

A La Chasse!

 

Neste momento em que escrevo, às 10:00h de 22 de Abril de 2020, como ocorre comigo todos os anos, não importa onde estiver, eu “vou pra SC “, e “ vivo o meu Dia da Caça” lá’.

Senta a Púa ! 



Marco A. de M. Rocha (Rocky) – Maj.- Av. RR
Piloto de Caça – Turma de 1976