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Pilotos de Caça da FAB treinam na Suécia para voar o Gripen NG

  

Caros amigos Caçadores,

Como deve ser do conhecimento da maioria, durante o mês de setembro do presente ano, fomos informados, por meio do comandante da Terceira FAE (Brigadeiro Jordão), que havíamos sido selecionados para realizar o treinamento de conversão operacional para pilotar a aeronave JAS-39 (GRIPEN C/D) na Suécia.

Inicialmente tivemos um sentimento de extrema felicidade e que, logo após sairmos da sala do Brigadeiro, se misturou com preocupação, afinal, a data que deveríamos iniciar o curso aqui seria no dia 03 de novembro, ou seja, menos de dois meses da data da ciência.

Enfim, muita coisa aconteceu nesse um mês e meio até a nossa partida do Brasil, que ocorreu no último 31 de outubro. Para aqueles que já realizaram alguma missão no exterior, o que não era o nosso caso, imaginem como foi preparar toda a documentação necessária (portaria/passaporte/passagem aérea/banco/visto/embaixada/família etc.), ao mesmo tempo que realizávamos o desimpedimento da Base/Esquadrão... Tudo em um mês e meio.

Primeiramente, antes de contar como está sendo o nosso treinamento aqui, gostaríamos de esclarecer um assunto que também deve ser de curiosidade de todos: O PROCESSO DE SELEÇÃO. Enfim, o que nos foi informado é que todos os pilotos de caça que estavam voando ou que já tinham voado nas aeronaves de Defesa Aérea (DA) da Primeira Linha (M-2000 e F-5M) foram analisados e elencados, segundo critérios específicos da FAE. Nesse primeiro momento, nos foi informado que os pilotos de A-1 não foram analisados, uma vez que as aeronaves recém-chegadas ao Brasil irão para o 1º GDA, além da necessidade do conhecimento operacional relativo à DA.

Essa análise consistiu basicamente de consultas aos dossiês e, consequentemente, ao nível de experiência dos pilotos nessas aeronaves. Outro fator levado em consideração foi a antiguidade desses dois primeiros pilotos; os quais não poderiam ser muito antigos, uma vez que o planejamento foi feito para que, ao retornarem para o Brasil, fossem responsáveis por implantar efetivamente a aeronave e, como estamos acostumamos a dizer, ter uma “vida útil” maior na unidade operacional para aproveitar ao máximo a experiência adquirida na aeronave.

Sobre o nosso treinamento aqui na Suécia, tudo tem sido muito interessante, isso mesmo, TUDO, desde a preparação dos equipamentos de voo, que não são poucos (eles possuem equipamentos totalmente diferentes para o inverno e para o verão), a adaptação ao clima predominantemente frio (que não passou de 5 graus desde que chegamos, desconsiderando-se os ventos).

Quando ainda estávamos no Brasil, o coordenador sueco nos informou que não seria necessário trazermos nada da nossa roupa de voo (macacão, botas etc.), porém, somente tivemos a real noção do que realmente eles estavam dizendo ao chegarmos à seção de equipamento de voo daqui (conhecida como Säkmat), que ocorreu logo na manha do primeiro dia do curso (03/11/14).

Na sala, havia uma equipe de aproximadamente 5 pessoas (militares e civis contratados), que já estavam nos esperando para a confecção, e isso mesmo, confecção do nosso equipamento de voo. Tudo aqui é feito sob medida (anti-g, macacão, capacete, máscara, macacão de imersão, luvas de voo), enfim, foi praticamente uma manha toda só para tirar as medidas dos nossos equipamentos. Para se ter uma ideia da importância dada ao EQV, eles tem moldes padronizados dos 3 tamanhos disponíveis dos capacetes (P,M e G – até aí, normal). Porém, para que estes fiquem bem ajustados à cabeça, eles preparam um forro de isopor e começam a “esculpir” (literalmente) o forro, conforme o formato da cabeça de cada um, até ele preencher exatamente o formato do capacete; com isso tem-se um molde simples e exato para cada piloto. Além disso, como na maior parte do ano a temperatura da água é baixa (inferior a 15 graus), eles utilizam um macacão especial (de imersão) que realmente isola corpo da água... Impressionante.

Sobre o treinamento em si, as aulas são bem distribuídas, e o cronograma é bem parecido com os nossos cursos daí. Uma diferença interessante é a parte das aulas técnicas dos sistemas da aeronave; essa parte é realizada em outra cidade e ministrada pelos técnicos (civis, militares e funcionários da SAAB) e tem a duração de uma semana.

As aulas ministradas na Unidade estão mais relacionadas diretamente com a operação da aeronave em si (Manual para pilotos/SOP/EMERG).

Vale ressaltar também a cultura organizacional relacionada à instrução aérea. Aqui eles enfatizaram bastante os valores que eles cultuam: no prestige/ no blame. No prestige eles entendem da seguinte maneira: ser IN não é nenhum privilégio, mas sim uma obrigação maior por ensinar e trazer os novos pilotos para junto do grupo – esse aspecto ficou evidente logo nas primeiras reuniões (inclusive pudemos observar o quanto eles são humildes nesse aspecto). No blame é a cultura de se permitir erros; eles entendem que os erros são normais e que fazem parte do processo de ensino. Além disso, eles priorizam os acertos, em detrimentos dos erros em si.

O curioso foi que eles, durante várias ocasiões no início do curso, sempre enfatizavam essas características (no prestige/ no blame... no prestige/ no blame), e relataram que em outras forças aéreas que eles tiveram contato em intercâmbios anteriores, era comum o inverso: prestige e/ou blame.

Outra exigência deles para se voar o GRIPEN é a qualificação na Centrifuga, que chamam de DFS - Dynamic Flight Simulator, na qual o piloto deve sustentar 9g por 15 segundos. Eles deixaram bem claro que, caso o piloto não seja qualificado, não voará a aeronave. Entretanto, o treinamento realizado antes da qualificação propriamente dita e é extremamente eficiente, e MUITO dolorido também.

Outro aspecto diferente que encontramos na instrução aqui é o momento em que se iniciam as missões no simulador. Aqui começamos as missões no simulador logo após a primeira aula, isso mesmo, não sabíamos nem onde estava a bateria da aeronave e já estávamos sentando nos simuladores decolando a máquina. Enfim, inicialmente nos pareceu estranho, uma vez que no Brasil, quando chegamos para fazer as nossas primeiras missões no simulador, já sabíamos praticamente todo o check-list, aprontos e todos os sistemas da aeronave. Aqui a didática é diferente, é um aprendizado mais gradual, misturando teoria e prática, mas o resultado final será o mesmo.

Aproveitando a oportunidade e, obviamente, com um intuito de descontração, e de atender aos anseios de alguns que já nos perguntaram, sugiro que a ABRA-PC lance o desafio para sugestão dos nossos amigos caçadores para um nome para esses que vos escrevem, conforme ocorreu no passado com os nossos Willi Boys (F-5 nos EUA) e os Dijon Boys (Mirage 3 na França), fica lançado o desafio, rs...

Dentro em breve completaremos o ciclo teórico e, mais em breve ainda, estaremos solando o novo trator voador.

Um grande abraço para todos e:

Senta a Pua!

Brasil!

GVO/FEA
Pilotos de Caça de 2005

 


Algumas fotos do treinamento:

 

Missão Gripen
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