"QUEPE SENTA PÚA"
(Forum no 03 - setembro de 2000)


Nas primeiras décadas de existência da FAB, foi criada no Brasil uma verdadeira veneração aos seus componentes.

A Força Aérea começou realmente a integrar de maneira eficiente e constante o nosso imenso território. Além dos heróis de guerra, a figura do aviador militar espelhava a coragem, altivez, responsabilidade, patriotismo e era admirada por todas as camadas da população e endeusada pelos jovens.

Aquela real imagem que tinha o povo daqueles precursores e veteranos foi sendo esquecida.

Atualmente os desafios são diferentes, porém a grandiosidade dos homens da Força Aérea é a mesma. O contato direto com a população é mais raro e os eventos que geram notícias, muito menores.

A FAB diminuiu gradativamente seu emprego de aeronaves onde a aviação civil poderia operar e manteve seu rumo, profissionalizando-se cada vez mais como Força.

Pois bem, a imagem que temos em nossas memórias dos aviadores da FAB, na época dos precursores, era a daquela túnica (as vezes uma gandola) cáqui, com calças também cáqui, um característico quepe sem armação na capa e um elegantíssimo sapato marrom de fivela! 

O quepe, naquela época, também podia ser usado em vôo e tinha sua capa um pouco amassada pela colocação dos fones do rádio (pelo menos esta era a justificativa). Uma característica tão marcante, que a referida "cobertura" era chamada pelos cadetes de "Quepe Senta Púa", mesmo que não fosse possível usá-las nos aviões de Caça. Sua aparência dava porém a impressão de que o seu portador acabara de chegar de um vôo. Aliás, o nosso Santos-Dumont também usava um "maceteado" chapéu. 

Os sapatos eram avançadíssimos: lisos sem cordões e com uma alça transversal em couro, presa por uma fivela lateral dourada, da mesma cor dos botões da farda. Era conhecido pelo público como "Sapato de Aviador"!

Com a modificação do uniforme, lá pelos fins dos anos 50, o RUMAER (Regulamento de Uniformes do Ministério da Aeronáutica) anulou duas das características que destacavam o Oficial da FAB dos demais militares: seu "macete" no quepe e o estilo do sapato.O novo quepe, com algum tempo de implantado, degenerou e passou a ter uma artificial capa dura, qual um pandeiro.  O sapato, imediatamente retrocedeu para o tipo usado em fins de anos de 1800 e passou a ter um inconveniente cadarço.

Estamos agora em novas eras, perdemos um pouco o nosso "status" de Ministério, passamos para Comando da Aeronáutica, mas a Força Aérea ainda existe e sua personalidade própria tem a obrigação de se impor e valorizar suas características e tradições.

Que tal fazer um novo "RUFAER (Regulamento de Uniformes da Força Aérea)", resgatar o estilo prático do "Sapato de Aviador" e usar o quepe menos "quadrado" e um pouco mais parecido com os dos precursores? Não custa nada mostrar que continuamos diferentes, nem melhores nem piores, somente diferentes!

À la chasse!

Cel.Av.R/R Euro Campos Duncan Rodrigues
Piloto de Caça - Turma 1963